Há cerca de um ano comecei a pesquisar sobre o impacto da alimentação na saúde mental, um interesse que surgiu por experiência pessoal. Depois de um período em que o meu sistema imunitário me deu pouco descanso e estive doente com alguma frequência, comecei também a sentir fadiga constante, dificuldades em concentrar-me e em adormecer, irritabilidade e quebra na produtividade. Fui achando apenas que era cansaço e excesso de trabalho. Mais tarde, e apesar de considerar que tinha hábitos alimentares saudáveis, decidi pesquisar mais e apostar na alimentação como forma de fortalecer as defesas do meu organismo. Passou muito pouco tempo até perceber que estava com défices nutricionais importantes, apesar dos supostos hábitos saudáveis. As melhorias foram tanto físicas, como emocionais e intelectuais. Não só reforcei as minhas defesas, como passei a dormir melhor, a sentir muito mais energia, mais foco e um maior bem-estar. E foi daqui que partiu o meu interesse por esta temática.
Fala-se muito da forma como as emoções influenciam o comportamento alimentar: desde o consumo de doces em momentos de maior ansiedade, passando pela falta de apetite em momentos de maior angústia, até às situações mais graves dos distúrbios alimentares. Ouvimos falar de como “somos o que comemos” ou que o intestino é o nosso “segundo cérebro”. Mas realmente fala-se muito pouco da relação inversa, ou seja, de como a alimentação pode afetar a estabilidade emocional e o rendimento intelectual.
Em Portugal parece falar-se ainda muito pouco ou nada sobre este assunto, apesar de lá fora a investigação e intervenção no âmbito da Psiquiatria e da Psicologia Nutricional estar em franca expansão, com resultados impressionantes, apesar de muito terreno ainda por desbravar.
Mas numa altura em que, por ano, se vendem em Portugal cerca de 30 milhões de embalagens de medicamentos psicoativos (ansiolíticos, sedativos, hipnóticos) e mais de 350 mil embalagens de metilfenidato (hiperatividade e défice de atenção), vale a pena refletir sobre a forma como a alimentação pode ajudar a prevenir e/ou atenuar sintomas de depressão, ansiedade, fadiga, falta de atenção, falta de memória, problemas se sono, agitação, bem como a combater e/ou retardar doenças degenerativas.
Não significa que vamos substituir a psicoterapia por quilos de espinafres e lentilhas! Como é óbvio este não será o plano terapêutico nem milagroso para uma história de grande sofrimento ou para um quadro psicopatológico complexo. É importante relembrar que as causas dos problemas de saúde mental são várias, tendo uma base psicológica, biológica, social, ambiental e nutricional. Mas sabe-se, por exemplo, que a deterioração da dieta ocidental já aumenta em 30% o risco de perturbações da saúde mental e de doenças degenerativas. Por outro lado, também é certo e sabido que quando nos encontramos mais fragilizados, ansiosos ou exaustos tendemos a comer pior, o que aumenta a nossa vulnerabilidade.
Entendo, para já, esta psicologia nutricional (relembro que é uma área de estudo e não uma especialidade reconhecida em Portugal) numa perspetiva de prevenção e otimização da saúde mental e de minimização de alguns sintomas.
No entanto, não há dúvida que melhorar a dieta com alimentos amigos do cérebro vai certamente melhorar a saúde mental e neurológica, aumentando a resiliência do cérebro.
Em próximas publicações tentarei aprofundar um pouco mais o tema e no dia 17 de Março, estarei a dinamizar o 2º Workshop “Alimentar as Emoções” na Organii, em Lisboa. Informações AQUI