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Aconselhamento, Apoio Psicológico ou Psicoterapia?

4/10/2018

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Muitas vezes os termos “acompanhamento/apoio psicológico” e psicoterapia são usados de uma forma muito genérica e nem sempre significam o mesmo. Importa então clarificar.

A psicoterapia de apoio, vulgarmente chamada de apoio/acompanhamento psicológico, é uma modalidade de intervenção mais superficial e centrada no momento. Esta superficialidade não lhe reduz a importância e significa que não há um trabalho de aprofundamento nem se ambicionam transformações profundas ao nível da personalidade, sendo este objetivo remetido para um processo psicoterapêutico mais específico, como veremos mais à frente. Por muito saudáveis e resilientes que sejam, todas as pessoas se deparam, em alguma fase da sua vida, com momentos de crise ou de desgaste psicológico, ou desafios que geram instabilidade e requerem a intervenção no âmbito da psicologia. Esta modalidade exige apenas formação académica em Psicologia Clínica (Licenciatura Pré-Bolonha ou Mestrado Pós-Bolonha), não requerendo uma especialização. Este acompanhamento é, habitualmente, de menor duração e centra-se na queixa ou no sintoma atual, com vista à reorganização dos recursos e mecanismos de adaptação da pessoa. Um conflito ou impasse profissional, desemprego, separação/divórcio/rotura amorosa, morte de um ente querido, diagnóstico de doença, alterações súbitas em alguma área da vida, desmotivação são alguns exemplos de situações de crise que podem fazer com que as pessoas procurem ajuda para se adaptarem à situação e restabelecerem o equilíbrio psicológico. A frequência das sessões é semanal ou quinzenal, sendo estas de 50 a 60 minutos, e a duração também é variável, habitualmente de alguns meses a um ano, mas depende da situação.

Quando se pretende um conhecimento mais abrangente e profundo de si próprio, a transformação de características e padrões de personalidade e/ou atuar ao nível de situações de vida mais complexas ou de quadros psicopatológicos específicos, já se exige um grau de formação e especialização diferente por parte do terapeuta, com reconhecimento por determinada sociedade/associação (psicanálise, psicodrama, EMDR, cognitiva, familiar, casal, bioenergética…). Também se exige maior compromisso e motivação da pessoa para um trabalho psicoterapêutico que poderá durar alguns anos, com sessões semanais no mínimo. Na psicoterapia psicanalítica, minha área de especialização, o trabalho vai além do alívio sintomático, pretendendo-se ir à raiz através de uma abordagem e compreensão globais da pessoa, nomeadamente da sua história pessoal, familiar e social, e de padrões que possam estar a bloquear o crescimento pessoal.

Muitas vezes, as pessoas trazem uma situação muito específica e iniciam uma psicoterapia de apoio (aconselhamento psicológico), mas acabam por pretender aprofundar o processo terapêutico, possível quando o terapeuta tem formação específica. Tanto numa como noutra modalidade, a palavra e a relação são os principais instrumentos de mudança, variando a diretividade (maior na psicoterapia de apoio) do terapeuta e a profundidade da relação terapêutica (maior na psicoterapia psicanalítica). Em abordagens mais integrativas, a psicoterapia pode fazer uso de algumas técnicas de outras modalidades psicoterapêuticas sem, no entanto, perder o seu enquadramento principal.
 
Vale ainda a pena fazer referência ao aconselhamento. Muitas vezes as pessoas precisam apenas de esclarecer algumas dúvidas, arrumar ideias, colocar questões muito específicas, sem intenção ou necessidade de grande continuidade. Nestas situações podem ser necessárias apenas algumas sessões pontuais. Neste caso, a questão mais frequente que nos colocam é se determinada situação “é normal” e é também neste âmbito que algumas pessoas decidem se pretendem ou não iniciar um processo terapêutico.
​
Espero ter conseguido simplificar estas especificidades da intervenção psicoterapêutica e que a informação possa ser útil para uma primeira reflexão sobre o que procura. Em todo o caso, nas primeiras sessões terá sempre espaço para, em conjunto com o psicólogo/psicoterapeuta, avaliar os objetivos e ir traçando o plano terapêutico que melhor se adequa às suas necessidades.
 
 
 

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Fúria Online: um reflexo dos tempos modernos?

3/27/2018

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Vivemos tempos conturbados em que sinais de crescente violência e perda de valores são visíveis um pouco por todo lado. O ciberespaço parece não fugir a esta tendência e observamos diariamente comportamentos hostis e agressivos nas redes sociais.

Podemos achar que este comportamento se restringe a grupos mais extremistas ou a temas que facilmente geram polémica, como o futebol, a Igreja e a política. Mas este fenómeno parece ser cada vez mais generalizado e, certamente, não precisaríamos de ir muito além da nossa própria “rede de amigos” para observar comentários que nos chocam pela agressividade e intolerância, que muitas vezes nem reconhecemos como característica dessa pessoa. Basta também espreitar os comentários de qualquer publicação, sobre qualquer tema, vinda de qualquer fonte, para encontrar pelo menos um comentário hostil e ofensivo. Desde o comentário impulsivo e quase inofensivo de alguém a quem o dia correu mal, passando pela piada mal conseguida, pela costela ativista, até ao extremismo e aos ataques gratuitos.

Mas que fenómeno é este? Por que razão existe tanta fúria por trás dos écrans? Estar “do outro lado” parece ser o principal fator associado a esta hostilidade. Por um lado, o grau de anonimato (ou pelo menos de distanciamento) dos interlocutores; por outro, a ausência de comunicação não-verbal (linguagem corporal, contacto ocular, tom de voz) que reduz a empatia e a autorregulação. Num contacto pessoal, habitualmente ajustamos a nossa postura em função dos sinais que recebemos. Nas relações online, não recebemos esses sinais, o que dificulta a autorregulação, mas promove também o mal-entendido, uma vez que a perceção do tom da conversa ou da intenção é muitas vezes uma projeção individual. Quem está do outro lado assume um certo estatuto de “não pessoa”, em casos extremos como se de um jogo se tratasse. Neste sentido, impossibilita-se novamente a empatia, na medida em que não há como analisar o que a “não pessoa” poderá sentir/pensar.

Há mais de uma década, no seu artigo "The Online Disinhibition Effect", o psicólogo John Suller apontava seis fatores que contribuem para este comportamento online: anonimato dissociativo ("as minhas ações não podem ser atribuídas à minha pessoa"); invisibilidade ("ninguém pode dizer como eu sou ou julgar meu tom"); assincronia ("as minhas ações não ocorrem em tempo real"); Introjeções solipsísticas ("tenho que adivinhar quem são estas pessoas e as suas intenções porque não as vejo"); imaginação dissociativa ("isto não é o mundo real, não são pessoas reais"); e minimização da autoridade ("não há figuras de autoridade aqui, posso agir livremente"). Este fatores parecem conjugar-se num movimento dissociativo, desprovido de contacto com a realidade, de empatia, de autocrítica ou de culpabilidade.

Vivemos tempos em que se acentuam diferenças e desigualdades, competição em vez de cooperação, tempos em que a pressão do êxito e do cumprimento de objetivos nos deixa presos a uma falsa ideia de realização, que na verdade parece trazer muito mais frustração, tantas vezes libertada nas redes sociais. Vivemos numa sociedade marcada pelo vazio: vazio de valorização e de reconhecimento, vazio de afetos e de vínculos, vazio de valores e compreensão, vazio de amor próprio e pelo outro. Muitas vezes, o ciberespaço torna-se bode expiatório, campo de batalha e de descarga de frustrações, fragilidades, tristeza, revolta, baixa autoestima, do grito que não se consegue dar no "mundo real".

Muitos estudos referem que os “trolls”, esses duendes maquiavélicos e desestabilizadores, têm na verdade uma grande necessidade de atenção, aprovação e reconhecimento, alimentando-se do poder que sentem ao gerar discussões polémicas (diferentes de um debate) e ao ofender e destratar quem tem opinião diferente da sua, e procurando a pertença de quem os aceita (quem faz like e põe mais lenha na fogueira). Frequentemente são pessoas com fracas competências sociais, que ateiam fogos aqui e ali, na esperança de colmatar as suas fragilidades e sentimentos de inferioridade. Muitas vezes, sentem que ganham quando deixa de haver resposta de quem, saudavelmente, simplesmente se cansa de travar lutas sem sentido e de dirigir o holofote para o incendiário. Já diz o psicanalista Coimbra de Matos “Só puxa dos galões quem não tem c******”.

Mas os agressores são incansáveis nesta procura de companhia à força e vão ateando fogo por onde passam. Na verdade, existem páginas específicas que se dedicam a ridicularizar e rebater qualquer ideia contrária à dos seus membros, uma espécie de grupo de encontro de especialistas de tudo, que faz lembrar um pouco o grupo de adolescentes rebeldes a que se junta o outro adolescente rebelde, que aí encontra a aceitação inalcançável entre outros pares.

Apesar destas discussões online poderem ser vistas por alguns utilizadores como uma forma de libertar emoções negativas, em jeito de catarse, na maior parte dos casos parece apenas intensificar esses sentimentos. Há certamente muito mais a dizer sobre a hostilidade online e, obviamente, diferentes graus de desestabilizadores e diversos fatores na base deste comportamento, mas vale a pena pensar se, em certa medida, esta tendência não será  o reflexo de uma sociedade cada vez mais marcada pela ausência de limites e pela perda de identidade e de pertença. Façamos do ciberespaço um palco de debate construtivo e enriquecedor. 

​Até breve!
 

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Psicologia Nutricional? O contributo da alimentação para o bem-estar emocional e intelectual

3/9/2018

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O dualismo mente-corpo tem sido alvo de grande pesquisa e debate, e podemos mesmo remontar a Descartes na sua alusão ao facto de que as respostas físicas e emocionais deveriam ser encaradas de forma separada. Ao longo da minha formação e experiência profissional, tenho-me debatido também com este difícil casamento e julgo que, desde cedo, me fizeram muito mais sentido orientações holísticas e integrativas. Talvez não seja por acaso que, apesar da minha formação de base e de especialização ser no âmbito da psicanálise, tenho também formação em neuropsicologia, duas disciplinas que se têm posicionado como antagónicas e incompatíveis, apesar das tréguas que vão surgindo aqui e ali.

Há cerca de um ano comecei a pesquisar sobre o impacto da alimentação na saúde mental, um interesse que surgiu por experiência pessoal. Depois de um período em que o meu sistema imunitário me deu pouco descanso e estive doente com alguma frequência, comecei também a sentir fadiga constante, dificuldades em concentrar-me e em adormecer, irritabilidade e quebra na produtividade. Fui achando apenas que era cansaço e excesso de trabalho. Mais tarde, e apesar de considerar que tinha hábitos alimentares saudáveis, decidi pesquisar mais e apostar na alimentação como forma de fortalecer as defesas do meu organismo. Passou muito pouco tempo até perceber que estava com défices nutricionais importantes, apesar dos supostos hábitos saudáveis. As melhorias foram tanto físicas, como emocionais e intelectuais. Não só reforcei as minhas defesas, como passei a dormir melhor, a sentir muito mais energia, mais foco e um maior bem-estar. E foi daqui que partiu o meu interesse por esta temática.

Fala-se muito da forma como as emoções influenciam o comportamento alimentar: desde o consumo de doces em momentos de maior ansiedade, passando pela falta de apetite em momentos de maior angústia, até às situações mais graves dos distúrbios alimentares. Ouvimos falar de como “somos o que comemos” ou que o intestino é o nosso “segundo cérebro”.  Mas realmente fala-se muito pouco da relação inversa, ou seja, de como a alimentação pode afetar a estabilidade emocional e o rendimento intelectual.

Em Portugal parece falar-se ainda muito pouco ou nada sobre este assunto, apesar de lá fora a investigação e intervenção no âmbito da Psiquiatria e da Psicologia Nutricional estar em franca expansão, com resultados impressionantes, apesar de muito terreno ainda por desbravar.

Mas numa altura em que, por ano, se vendem em Portugal cerca de 30 milhões de embalagens de medicamentos psicoativos (ansiolíticos, sedativos, hipnóticos) e mais de 350 mil embalagens de metilfenidato (hiperatividade e défice de atenção), vale a pena refletir sobre a forma como a alimentação pode ajudar a prevenir e/ou atenuar sintomas de depressão, ansiedade, fadiga, falta de atenção, falta de memória, problemas se sono, agitação, bem como a combater e/ou retardar doenças degenerativas.

Não significa que vamos substituir a psicoterapia por quilos de espinafres e lentilhas! Como é óbvio este não será o plano terapêutico nem milagroso para uma história de grande sofrimento ou para um quadro psicopatológico complexo. É importante relembrar que as causas dos problemas de saúde mental são várias, tendo uma base psicológica, biológica, social, ambiental e nutricional. Mas sabe-se, por exemplo, que a deterioração da dieta ocidental já aumenta em 30% o risco de perturbações da saúde mental e de doenças degenerativas. Por outro lado, também é certo e sabido que quando nos encontramos mais fragilizados, ansiosos ou exaustos tendemos a comer pior, o que aumenta a nossa vulnerabilidade.
 
Entendo, para já, esta psicologia nutricional (relembro que é uma área de estudo e não uma especialidade reconhecida em Portugal) numa perspetiva de prevenção e otimização da saúde mental e de minimização de alguns sintomas.

No entanto, não há dúvida que melhorar a dieta com alimentos amigos do cérebro vai certamente melhorar a saúde mental e neurológica, aumentando a resiliência do cérebro.

Em próximas publicações tentarei aprofundar um pouco mais o tema e no dia 17 de Março, estarei a dinamizar o 2º Workshop “Alimentar as Emoções” na Organii, em Lisboa. Informações AQUI

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Workshop: Alimentar as Emoções (10 de Fevereiro- Loja Organii)

1/22/2018

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Fala-se da fome emocional e de como as emoções influenciam o comportamento alimentar. No entanto, fala-se pouco da relação inversa. Ou seja, de que modo os alimentos influenciam o funcionamento emocional e intelectual. No próximo dia 10 de fevereiro, das 11h às 13h, vou estar na Organii a falar deste tema.  como a alimentação pode ajudar a melhorar o humor e o rendimento intelectual.


​Numa altura em que, por ano,  se vendem em Portugal cerca de 30 milhões de embalagens de medicamentos psicoativos (ansiolíticos, sedativos, hipnóticos) e mais de 350 mil embalagens de metilfenidato (hiperatividade e défice de atenção), vale a pena refletir sobre a forma como a alimentação pode ajudar a prevenir e/ou atenuar sintomas de depressão, ansiedade, fadiga, falta de atenção, falta de memória, problemas se sono, agitação, bem como a combater e/ou retardar doenças degenerativas.

A prevalência das doenças mentais tem aumentado nos países desenvolvidos com a deterioração da dieta ocidental. Há, consequentemente, uma correlação entre determinadas carências nutricionais e algumas perturbações emocionais. Por exemplo, a falta de ferro e ómega 3 parece aumentar a vulnerabilidade à depressão e à ansiedade. O excesso de açúcar, por sua vez, tende a provocar agitação e falta de concentração.
Neste workshop iremos abordar ambas as direções da relação entre a alimentação e a saúde mental, tentando responder a estas e outras questões?
  • De que forma podemos fazer uma alimentação mais consciente e emocionalmente equilibrada?
  • Como é que o intestino (segundo cérebro) influencia o nosso primeiro cérebro?
  • De que modo a alimentação pode ajudar no funcionamento emocional e intelectual, nomeadamente prevenir e minimizar sintomas de ansiedade e depressão, problemas de memória e concentração, fadiga, e preservar o bom funcionamento do cérebro?
  • Que alimentos podem contribuir para combater a fadiga, a irritabilidade, as alterações do humor, a insónia, promovendo um maior bem-estar psicológico?
  • Que alimentos contribuem para um envelhecimento mais saudável e para a prevenção de doenças degenerativas?

Venha descobrir as respostas neste workshop sem fundamentalismos e terá ainda a oportunidade de degustar um pequeno-almoço antifadiga ou um smoothie relaxante, fáceis de reproduzir em casa.

​Inscreva-se através do email lojaorganii@organii.com

​Workshop: Alimentar as Emoções
Por Alexandra Barros
10 de fevereiro
Horário 11h00 – 13h00
20€ por pessoa

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Super birras, super crianças, super pais, super amas e super programas

1/15/2018

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Vivemos numa era em que todos somos um pouco juízes em praça pública e as redes sociais são um canal de crítica veloz, que facilmente resvala para o ódio e para o ataque pessoal, com pouca preocupação pelo comentário construtivo.
 
Vi ontem o novo programa da SIC, Supernanny, um formato importado de outros países. Confesso que assim que vi os primeiros anúncios antevi a polémica que se iria gerar, mas aguardei para ver. Sabemos que o que vende hoje em dia é a imagem e que programas que promovam a reflexão, a prevenção e a ponderação terão muito menos audiência do que estes programas mais sensacionalistas e em jeito de Big Brother.
 
Não vou analisar o comportamento da menina, nem da mãe, nem da avó, nem do pai, nem da minha colega de profissão. Vou falar sobre como este programa podia ser útil.

Vi em alguns comentários que Portugal é um país que só sabe criticar e que os programas que têm imenso sucesso lá fora acabam sempre por ser criticados e até cancelados em Portugal. Em primeiro lugar, o facto de ter sucesso lá fora não quer dizer que seja bom. Em segundo lugar, podíamos começar a copiar exemplos mais pedagógicos, empáticos e respeitadores.
 
As regras e os limites são de extrema importância para as crianças, basta lerem duas ou três publicações minhas para saberem a minha opinião sobre este tema. A par com o afeto, as regras dão segurança, no aqui e agora, e preparam o futuro. Uma criança que não ouve “NÃO” é uma criança que sente que não tem um adulto que a protege, é uma criança que vai aumentar o seu comportamento desafiante na esperança que a travem, porque a ausência dessa autoridade lhe traz sofrimento. A criança tenta controlar quando sente que não há controlo à volta dela. Sejam quais forem as razões, família e criança precisam de ser ajudadas a perceber as razões desta dificuldade em lidar com regras, a perceber o que a criança está a pedir e, gradualmente, a adotarem novas estratégias que sejam suportáveis para a família e para a criança. A criança precisa de sentir que não destrói o pai ou a mãe com a sua agressividade. Os pais têm de ser ajudados a não ficarem destruídos com a agressividade da criança e com o exercício da sua autoridade. Esta parte não foi, de todo, assegurada pelo programa. Mãe e criança ficaram destruídas várias vezes.
 
Este programa podia ser bom com outra forma e outro conteúdo. As crianças precisam de consistência e isso falha logo no enquadramento do programa: é suposto ser uma ama, que toma conta e é uma espécie de segundo educador (o primeiro são os pais), ou uma psicóloga que ajuda a identificar e a alterar padrões desajustados, que traduz e intervém nos sinais de sofrimento e apoia no processo de transformação? Talvez nesta parte o maior incómodo surja entre nós, psicólogos, que facilmente identificamos que o que ali se passa tem pouco de psicologia. Parte da informação e das sugestões até fazem bastante sentido, a forma como são transmitidas e utilizadas é que não.
 
Talvez se pudessem filmar excertos da dinâmica familiar, mas tentando ocultar o rosto da criança e da mãe. Lendo vários comentários nas redes sociais, é fácil prever que a menina e a mãe vão ser alvo de crítica severa, insultos, gozo. Julgo que se podia fazer uma síntese do enquadramento familiar, certamente comum a milhares de famílias, e sugerir estratégias a partir daí, lançar debate e reflexão, juntar pais a debater as dificuldades.
 
Acredito que os pais fazem sempre o melhor que conseguem com os recursos que têm. E por recursos entendo as suas próprias competências emocionais, os seus conhecimentos, a sua história familiar, o tempo, a rede de suporte sociofamiliar, etc. O que se passou neste programa passa-se, diariamente, nas casas de muitas famílias. Algumas pedem ajudam, outras não. Algumas nem sabem que têm um problema para resolver. Algumas pedem ajuda na porta errada.
 
Utilizando os conhecimentos da psicologia, a Super-Ama poderia ser de grande ajuda para muitas famílias, lançando o debate sobre os desafios da parentalidade, sobre o desafio que é crescer e conquistar um lugar no mundo dos adultos, sobre afetos, sobre regras, sobre saúde mental. Mas para isso era preciso que o objetivo fosse realmente ajudar.
 
Agora paremos de crucificar a SIC, o programa, a Supernanny, a mãe, a menina. É altura de pensar como é que chegámos aqui, de olhar para dentro de casa e de refletir sobre o que se lá passa, sobre os valores que estamos a transmitir, sobre o tipo de informação que queremos obter. Estes programas só existem porque se sabe que vão ter audiência, que vão gerar polémica e, com isso, publicidade. Se Portugal fosse menos negativamente crítico, e mais construtivo, talvez desse mais audiência e abertura ao que de bom há por aí. Vejo muito menor participação em posts referentes a iniciativas construtivas, sem polémicas associadas. É preciso dar audiência ao que permite crescimento e não ao que destrói e se transforma em ataque pessoal. Dê-se mais audiência a iniciativas menos espetaculares, promova-se mais debate e reflexão sobre afetos, relações, valores, partilha, entreajuda.
 
À vossa volta pode estar uma Margarida ou uma mãe da Margarida, desesperadas por ajuda, mas com receio de a pedir, com medo do dedo apontado e da humilhação. Sejamos mais humildes e disponíveis para ouvir. Talvez, na minha ingénua esperança na humanidade e no futuro, seja possível um mundo melhor em que estes programas não existam, onde as famílias não são expostas destas forma e onde se pode realmente receber ajuda sem os holofotes que, depois de apagados, talvez deixem mais nódoas negras do que aquelas que já existiam.

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