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Ortorexia: Quando a alimentação saudável passa a obsessão

5/5/2019

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Talvez nunca se tenha falado tanto em saúde e bem-estar e, em particular, em alimentação saudável. Não há dia que não saia um artigo, mais ou menos fiável, a propósito dos benefícios ou malefícios de determinado alimento, e o que hoje é verdade, amanhã pode bem deixar de o ser. Multiplicam-se também as dietas para isto e para aquilo ou anti-isto e aquilo, quase sempre pouco aconselhadas pela maioria dos nutricionistas, que tantas vezes veem o seu conhecimento posto em causa por uma qualquer receita milagrosa defendida por celebridades, bloggers ou influencers. Mas falemos dos fatores psicológicos associados à preocupação, por vezes excessiva, com a alimentação saudável.

Vivemos tempos de oito ou oitenta, de tudo ou nada, em que equilíbrio e meio-termo parecem quase nunca ter lugar. Vivemos cada vez mais informados sobre o que faz bem ou mal e, de forma sensata, tentamos ajustar o nosso estilo de vida para que a possamos viver com a melhor qualidade e saúde possíveis. Todos sabemos que devemos evitar o sal, alimentos processados, açúcar, e até vamos aprendendo a ler rótulos para fazermos escolhas mais acertadas, mas não vivemos em função disso. Ou não devemos.

Onde traçar o limite entre a preocupação com alimentação e a obsessão?  Quando há uma aplicação exagerada das regras básicas de uma boa alimentação, podemos estar perante um quadro de Ortorexia.

Apesar de não integrar o famoso manual das perturbações mentais DSM-V, que é essencialmente um guia psiquiátrico, a Ortorexia é já amplamente reconhecida como um distúrbio do comportamento alimentar, que se caracteriza pela obsessão por alimentos saudáveis, bons ou puros, digamos assim. A fixação é de tal ordem que a pessoa pode passar o dia a pensar e a planear as suas refeições, analisar escrupulosamente os rótulos ou eliminar um ou vários grupos alimentares por considerá-los nocivos, correndo o risco de desnutrição ou complicações que podem ser fatais. Acresce a tendência ao isolamento, não só porque evitam comer em casa de amigos e/ou em restaurantes, pela ausência de controlo sobre os alimentos e a sua confeção, como se vivessem numa ameaça constante de envenenamento, mas porque os outros tendem a afastar-se por se se sentirem incomodados com o discurso persistente e fundamentalista em torno da alimentação.

Ao contrário da bulimia e da anorexia, na ortorexia a preocupação não é o peso, mas sim a saúde, mas uma preocupação levada ao extremo e, portanto, pouco saudável. Tal como na generalidade dos distúrbios alimentares, é um problema que se manifesta na relação com a comida, mas que tem a sua origem na relação consigo próprio. O que está por trás muitas vezes é uma personalidade marcadamente perfecionista e com enorme necessidade de controlo que quase sempre esconde fragilidades emocionais muito significativas. É, de certa forma, um sintoma que serve de distração para o problema principal. Com alguma frequência aparece como disfarce de um quadro de anorexia supostamente em recuperação. Outras vezes pode surgir na sequência de um problema de saúde grave, em que a pessoa passa a adotar hábitos mais saudáveis, mas acaba por levá-los ao extremo.

Desde que comecei a dedicar-me à relação entre a alimentação e a saúde mental, considerando ambas as direções desta relação, tenho estado mais envolvida nas redes sociais e tenho-me apercebido de um fenómeno verdadeiramente preocupante: existem inúmeras páginas/contas de bem-estar e alimentação (supostamente) saudável que, na verdade, escondem perturbações do comportamento alimentar. Obviamente não podendo fazer diagnósticos através do que observo nestes contextos, serão bastantes os quadros de anorexia e ortorexia, em que esta última muitas vezes mascara a primeira. São contas com milhares e milhares de seguidores (e patrocínio de marcas de suplementos), que usam os rótulos “saudável”, “clean” e outros termos supostamente “do bem”, como tanto se diz neste meio. São pessoas com enorme fragilidade que obtêm a validação e a autorização do seu distúrbio, influenciando milhares de outras pessoas frágeis. Obtendo este reconhecimento, reforçam a sua autoestima de forma negativa, mantendo a ilusão do saudável e não procurando ajuda. Porque “se milhares de pessoas apoiam, é porque deve ser certo, correto?” Errado. E ai de nós, psicólogos e nutricionistas, que nos atrevamos a alertar e a sensibilizar, porque rapidamente aparece um especialista formado na universidade do google a dizer-nos que a celebridade tal é que sabe e que nós na verdade só queremos dizer que as pessoas estão doentes e precisam de ajuda porque temos falta de pacientes. Não aconteceu comigo, ainda, mas já vi acontecer.

E porque nesta era do oito e oitenta facilmente se cai no extremo oposto, vale a pena esclarecer que falar dos riscos da obsessão pela alimentação saudável ou das dietas xyz não significa apoiar a má alimentação, a obesidade ou os comportamentos de risco. Recentemente vi uma publicação em que um médico, autor de um best-seller, questionava e ridicularizava o diagnóstico de ortorexia, afirmando que esta última poderia salvar vidas, confundindo obviamente a linha que separa o equilíbrio do excesso e a saúde do desequilíbrio.

O perigo surge quando achamos que temos de estar nos extremos opostos. Falar do perigo da ortorexia não significa defender uma má alimentação, assim como sensibilizar para uma alimentação saudável não significa criar fobias, obsessões e histerias alimentares. Da mesma forma como quando defendemos uma cultura antidieta, não estamos a promover a obesidade nem uma alimentação à base de fritos e doces. O importante é o equilíbrio, termo às vezes também mal aplicado. No que respeita à alimentação, equilíbrio será o privilégio de vegetais e frutas, evitando gorduras trans, alimentos processados e açúcares, como é certo e sabido. Mas, atrevo-me a dizer que não vamos morrer se comermos uma pizza ou um petit gateau de vez quando.

Bom, morrer iremos de qualquer maneira, mais tarde ou mais cedo. Todos queremos que seja mais tarde e melhor, por isso claro que há uma série de comportamentos que nos podem ajudar a viver de uma forma mais saudável e a evitar doenças graves. Mas se a preocupação pela alimentação se transformar numa obsessão isso também pode ser fatal, não só pelas carências que pode causar, mas porque o stress também mata. Por isso é suposto a alimentação ser uma fonte de prazer, energia e tranquilidade e não uma fonte de sofrimento. Se assim é, o acompanhamento psicológico e a reeducação alimentar serão cruciais. Há um grande enfoque nos hábitos que devemos adotar para promover a saúde do corpo, mas a doença mental é das mais incapacitantes e a que mais influência terá nas escolhas que fazemos diariamente e, consequentemente, no nosso futuro.
 

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Açúcar, Ansiedade e Agitação

7/13/2018

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Parece óbvia a necessidade de atentar à alimentação quando estamos perante um problema de saúde (física). Por exemplo, são relativamente bem conhecidas as recomendações alimentares na prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares, hepáticas, na diabetes, etc. Mas quando se fala em saúde mental e alimentação parece surgir um grande ceticismo, provavelmente por ser ainda uma área de estudo em expansão, que não se resume à recomendação de comer chocolate para melhorar o humor (recomendação esta que, na verdade, deve ser encarada com óbvia moderação). Talvez também porque a saúde mental tem sido sempre um parente pobre da saúde. Na verdade, não há saúde (física) sem saúde mental, nem saúde mental sem saúde. Há cada vez mais investigação nesta área, sobretudo no que respeita ao impacto do microbioma intestinal no eixo cérebro-intestino e às doenças inflamatórias, com descobertas promissoras, como podem ver no artigo que partilhei ontem.


Corpo e mente são indissociáveis, pelo que um corpo malnutrido trará a reboque um cérebro desnutrido, com o consequente impacto no pensamento, nas emoções e no comportamento.
O nosso cérebro é uma máquina que está sempre ligada, o que significa que precisa de atestar constantemente o combustível. Quanto melhor for a qualidade deste combustível, melhor irá funcionar. Logo uma alimentação de qualidade vai nutrir o cérebro e protegê-lo do desgaste. Assim como o motor de um carro deixará de funcionar bem se utilizarmos continuamente um combustível de baixa qualidade, uma alimentação pouco saudável poderá causar danos no nosso cérebro. E o combustível em forma de alimentos inclui proteína, hidratos de carbono e gordura. A mistura correta irá contribuir para maior eficiência.


Nos tempos acelerados que correm (literalmente) temos vindo a descurar a alimentação, recorrendo a alimentos refinados, produtos altamente processados, refeições pré-preparadas, com particular relevo para o excesso de gorduras e de açúcar. O cérebro precisa de açúcar (hidratos de carbono) para funcionar, não sendo por acaso que nas dietas com grande restrição de hidratos de carbono se verifica frequentemente um aumento da agressividade, da irritabilidade e de problemas de concentração, por exemplo. Mas o cérebro precisa do açúcar certo (hidratos de carbono complexos) e aquilo a que assistimos atualmente é a um consumo excessivo de açúcares simples, muitas vezes até mascarados de snacks saudáveis. Frequentemente o recurso ao açúcar tenta cumprir a expetativa de recuperar energia e de combater a ansiedade, tendo na realidade o efeito inverso.

A emoção segue a alimentação (“mood follows food”, já não me recordo onde li esta expressão) e as oscilações do humor seguem as oscilações de açúcar. Um primeiro passo, ao nível da nutrição, para o bom funcionamento do cérebro e para a estabilidade emocional é reduzir o consumo de hidratos de carbono simples e refinados. Açúcar, farinhas brancas e derivados provocam um aumento brusco do açúcar no sangue e depois a queda. Daí aquele pico de energia logo depois de comermos um doce ou uma refeição rica em hidratos simples, seguido de uma quebra uma hora ou duas depois, quando os níveis de glucose descem e a fadiga e a irritabilidade regressam. A tendência é voltar a ingerir produtos açucarados para recuperar, provocando uma montanha russa de açúcar e, consequentemente, de fadiga, agitação e ansiedade. Aliás, são cada vez mais os estudos que sugerem a relação entre o excesso de açúcar, a ansiedade e a perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Teremos crianças hiperativas ou malnutridas? Este tema será aprofundado numa publicação futura.

Os altos e baixos de açúcar afetam o funcionamento mental. A descida de glucose no sangue provoca a quebra do humor, irritabilidade, ansiedade, nervosismo, ânsia por doces, insónias, problemas de concentração, agitação, desmaios, fraqueza motora, dores de cabeça, alterações visuais, confusão, tremores… Estes são muitas vezes sinais de “ressaca” que podem levar a um ciclo vicioso, com nova ingestão de açúcar para compensar este mal-estar. Uma forma de a evitar é aumentando o consumo de hidratos complexos, proteína e comer várias vezes ao dia, evitando sentir fome. Aconselha-se que procure um nutricionista que o ajude a planear melhor as suas refeições. Muitas pessoas comem mal ingenuamente, sendo necessária uma reeducação alimentar. Acresce ainda a necessidade de averiguar a existência de um problema de compulsão alimentar, com recurso à comida para encher o vazio emocional, tema também a desenvolver em breve.


Sem reduzir o consumo de hidratos de carbono simples, será difícil equilibrar o humor, permanecendo este alterado, às vezes sem se perceber porquê.
 
 

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