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Ortorexia: Quando a alimentação saudável passa a obsessão

5/5/2019

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Talvez nunca se tenha falado tanto em saúde e bem-estar e, em particular, em alimentação saudável. Não há dia que não saia um artigo, mais ou menos fiável, a propósito dos benefícios ou malefícios de determinado alimento, e o que hoje é verdade, amanhã pode bem deixar de o ser. Multiplicam-se também as dietas para isto e para aquilo ou anti-isto e aquilo, quase sempre pouco aconselhadas pela maioria dos nutricionistas, que tantas vezes veem o seu conhecimento posto em causa por uma qualquer receita milagrosa defendida por celebridades, bloggers ou influencers. Mas falemos dos fatores psicológicos associados à preocupação, por vezes excessiva, com a alimentação saudável.

Vivemos tempos de oito ou oitenta, de tudo ou nada, em que equilíbrio e meio-termo parecem quase nunca ter lugar. Vivemos cada vez mais informados sobre o que faz bem ou mal e, de forma sensata, tentamos ajustar o nosso estilo de vida para que a possamos viver com a melhor qualidade e saúde possíveis. Todos sabemos que devemos evitar o sal, alimentos processados, açúcar, e até vamos aprendendo a ler rótulos para fazermos escolhas mais acertadas, mas não vivemos em função disso. Ou não devemos.

Onde traçar o limite entre a preocupação com alimentação e a obsessão?  Quando há uma aplicação exagerada das regras básicas de uma boa alimentação, podemos estar perante um quadro de Ortorexia.

Apesar de não integrar o famoso manual das perturbações mentais DSM-V, que é essencialmente um guia psiquiátrico, a Ortorexia é já amplamente reconhecida como um distúrbio do comportamento alimentar, que se caracteriza pela obsessão por alimentos saudáveis, bons ou puros, digamos assim. A fixação é de tal ordem que a pessoa pode passar o dia a pensar e a planear as suas refeições, analisar escrupulosamente os rótulos ou eliminar um ou vários grupos alimentares por considerá-los nocivos, correndo o risco de desnutrição ou complicações que podem ser fatais. Acresce a tendência ao isolamento, não só porque evitam comer em casa de amigos e/ou em restaurantes, pela ausência de controlo sobre os alimentos e a sua confeção, como se vivessem numa ameaça constante de envenenamento, mas porque os outros tendem a afastar-se por se se sentirem incomodados com o discurso persistente e fundamentalista em torno da alimentação.

Ao contrário da bulimia e da anorexia, na ortorexia a preocupação não é o peso, mas sim a saúde, mas uma preocupação levada ao extremo e, portanto, pouco saudável. Tal como na generalidade dos distúrbios alimentares, é um problema que se manifesta na relação com a comida, mas que tem a sua origem na relação consigo próprio. O que está por trás muitas vezes é uma personalidade marcadamente perfecionista e com enorme necessidade de controlo que quase sempre esconde fragilidades emocionais muito significativas. É, de certa forma, um sintoma que serve de distração para o problema principal. Com alguma frequência aparece como disfarce de um quadro de anorexia supostamente em recuperação. Outras vezes pode surgir na sequência de um problema de saúde grave, em que a pessoa passa a adotar hábitos mais saudáveis, mas acaba por levá-los ao extremo.

Desde que comecei a dedicar-me à relação entre a alimentação e a saúde mental, considerando ambas as direções desta relação, tenho estado mais envolvida nas redes sociais e tenho-me apercebido de um fenómeno verdadeiramente preocupante: existem inúmeras páginas/contas de bem-estar e alimentação (supostamente) saudável que, na verdade, escondem perturbações do comportamento alimentar. Obviamente não podendo fazer diagnósticos através do que observo nestes contextos, serão bastantes os quadros de anorexia e ortorexia, em que esta última muitas vezes mascara a primeira. São contas com milhares e milhares de seguidores (e patrocínio de marcas de suplementos), que usam os rótulos “saudável”, “clean” e outros termos supostamente “do bem”, como tanto se diz neste meio. São pessoas com enorme fragilidade que obtêm a validação e a autorização do seu distúrbio, influenciando milhares de outras pessoas frágeis. Obtendo este reconhecimento, reforçam a sua autoestima de forma negativa, mantendo a ilusão do saudável e não procurando ajuda. Porque “se milhares de pessoas apoiam, é porque deve ser certo, correto?” Errado. E ai de nós, psicólogos e nutricionistas, que nos atrevamos a alertar e a sensibilizar, porque rapidamente aparece um especialista formado na universidade do google a dizer-nos que a celebridade tal é que sabe e que nós na verdade só queremos dizer que as pessoas estão doentes e precisam de ajuda porque temos falta de pacientes. Não aconteceu comigo, ainda, mas já vi acontecer.

E porque nesta era do oito e oitenta facilmente se cai no extremo oposto, vale a pena esclarecer que falar dos riscos da obsessão pela alimentação saudável ou das dietas xyz não significa apoiar a má alimentação, a obesidade ou os comportamentos de risco. Recentemente vi uma publicação em que um médico, autor de um best-seller, questionava e ridicularizava o diagnóstico de ortorexia, afirmando que esta última poderia salvar vidas, confundindo obviamente a linha que separa o equilíbrio do excesso e a saúde do desequilíbrio.

O perigo surge quando achamos que temos de estar nos extremos opostos. Falar do perigo da ortorexia não significa defender uma má alimentação, assim como sensibilizar para uma alimentação saudável não significa criar fobias, obsessões e histerias alimentares. Da mesma forma como quando defendemos uma cultura antidieta, não estamos a promover a obesidade nem uma alimentação à base de fritos e doces. O importante é o equilíbrio, termo às vezes também mal aplicado. No que respeita à alimentação, equilíbrio será o privilégio de vegetais e frutas, evitando gorduras trans, alimentos processados e açúcares, como é certo e sabido. Mas, atrevo-me a dizer que não vamos morrer se comermos uma pizza ou um petit gateau de vez quando.

Bom, morrer iremos de qualquer maneira, mais tarde ou mais cedo. Todos queremos que seja mais tarde e melhor, por isso claro que há uma série de comportamentos que nos podem ajudar a viver de uma forma mais saudável e a evitar doenças graves. Mas se a preocupação pela alimentação se transformar numa obsessão isso também pode ser fatal, não só pelas carências que pode causar, mas porque o stress também mata. Por isso é suposto a alimentação ser uma fonte de prazer, energia e tranquilidade e não uma fonte de sofrimento. Se assim é, o acompanhamento psicológico e a reeducação alimentar serão cruciais. Há um grande enfoque nos hábitos que devemos adotar para promover a saúde do corpo, mas a doença mental é das mais incapacitantes e a que mais influência terá nas escolhas que fazemos diariamente e, consequentemente, no nosso futuro.
 

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Isso é tudo psicológico!

4/11/2019

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Quantas vezes não ouvimos isto? Não só da boca dos amigos ou da família, mas frequentemente de muitos profissionais de saúde.

“É psicológico!”
“São coisas da tua cabeça”
“Tens de relaxar”
“Não penses mais nisso que isso passa”
“Tens de ter força de vontade”

Estas afirmações surgem frequentemente em resposta às queixas físicas, emocionais, intelectuais, profissionais e sociais decorrentes do mal-estar psicológico, como se este fosse um problema de segunda categoria, um chelique, um capricho ou umas coisinhas que passam se respirarmos fundo.

Estas atitudes, aliadas ao estigma que ainda existe relativamente à saúde mental, reforçam o sentimento de incompreensão, vergonha, culpa e desvalorização, levando ao isolamento, à máscara do “está tudo bem, obrigado” e à não procura de ajuda profissional.

Tão ou mais grave é não haver um encaminhamento para avaliação e acompanhamento psicológico quando as pessoas recorrem a serviços médicos com determinadas queixas, que são rapidamente diagnosticadas como depressão, ansiedade ou ataque de pânico. Levam consigo uma recomendação para tirarem umas férias e não pensarem no assunto, ficando sozinhas com as suas “minhoquinhas na cabeça” e os seus “macaquinhos no sótão”.

Não menos frequente, apesar de aqui envolver uma maior valorização das queixas, é o facto de alguns médicos se adiantarem na prescrição de medicação sem esclarecimento diagnóstico por parte dos profissionais de saúde mental (psicólogos e psiquiatras). Se se encaminham as pessoas para diferentes especialidades médicas em função das suas queixas e das hipóteses de diagnóstico, por que razão a saúde mental continua a ser aquela área em que todos se consideram entendidos e capazes de avaliar a olho nu?

Na minha opinião, exceto em quadros muito graves e com risco significativo atestado pelo psicólogo e pelo psiquiatra, a medicação não deve ser a primeira nem a única linha de intervenção. Vejo frequentemente esta rápida medicação em situações que seriam facilmente atenuadas com aconselhamento ou psicoterapia. Mas, em vez disso, coloca-se um penso rápido em cima de uma ferida que vai abrir novamente se não for devidamente tratada. Noutros casos, medicam-se respostas emocionais que são sinal de saúde mental, tratando-se reações normais a situações adversas como se fossem infeções a combater. Medicam-se tristezas e lutos como se fossem depressões, por exemplo.

Um outro risco da medicação sem esclarecimento do quadro psicológico ou psicopatológico é o de confundir diagnósticos. O diagnóstico em saúde mental não é rápido nem imediato; não existe um Raio X ou uma análise de sangue. Muitas vezes é já no decorrer de uma psicoterapia que se clarificam os diagnósticos; por isso, habitualmente  falamos num determinado funcionamento, sem usar necessariamente um rótulo que parece comportar uma sentença. Quando se abafam sintomas e queixas com medicação pode comprometer-se este trabalho de esclarecimento, assim como a evolução clínica da pessoa. Quando se medica uma coisa que afinal é outra coisa, pode estar a provocar-se uma erupção perigosa e silenciosa num vulcão temporariamente anestesiado e adormecido.

O que nos traz a esta desvalorização das queixas psicológicas, por um lado, e à desconsideração da avaliação e intervenção especializada nestas situações? Julgo que o estigma e a desvalorização da saúde mental são os pontos principais. Enquanto a saúde mental for parente pobre da saúde e não se perceber, de uma vez por todas, que não há saúde sem saúde mental, as queixas psicológicas vão continuar a ser vistas como algo simples de resolver e que não carecem do envolvimento de profissionais formados e competentes na área. Mas um outro fator fundamental será a reduzida acessibilidade à intervenção psicológica; pagar um acompanhamento regular num consultório privado é algo que não está acessível ao bolso de qualquer pessoa e enquanto a psicologia for vista como um luxo pouco apetecível às seguradoras, grande parte das pessoas terá de ficar meses à espera de consultas mensais no público (na melhor das hipóteses), onde por mais competentes e por mais boa vontade que os psicólogos possam ter, é difícil fazer um trabalho eficaz. Por isso, as pessoas acabam muitas vezes por se resignar ao antidepressivo ou ao ansiolítico tomado de forma vitalícia.
 
O mal-estar e o sofrimento psicológico são queixas reais. Quando a mente adoece, o corpo fica mais vulnerável e pode adoecer também. Há impacto na vida pessoal, familiar, social, profissional, escolar. A dor emocional não se trata com frases inspiradoras, palmadinhas nas costas ou respirações profundas. Da mesma forma não se trata só com medicação. Trata-se com empatia e com conversa, em primeiro lugar. Sim, conversa; mas uma conversa longa, profunda e transformadora, guiada por profissionais que sabem ler nas entrelinhas e que, com base na sua formação e experiência, fazem o trabalho que nenhum profissional de outra área poderá fazer, mesmo que muitas vezes se possam acionar outras especialidades.
 
 Desculpem o desabafo de uma psicóloga às vezes cansada de lutar pelo respeito pela saúde mental.
 
 
 
 

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Dia de São Amor-Próprio

2/14/2019

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Valentim, bispo romano, continuou a realizar casamentos contra a ordem do imperador Cláudio II, que acreditava que os jovens solteiros mais facilmente se iriam alistar para formar um poderoso exército. Valentim foi descoberto e preso, recebendo bilhetes e flores de jovens que lhe mostravam acreditar no amor. Valentim e a filha do carcereiro acabariam apaixonados. Ela, cega, viria a recuperar milagrosamente a visão. Ele ter-lhe-á escrito uma carta, assinando “de seu Valentim”, expressão muitas vezes repetida em inglês até aos dias de hoje (your Valentine). Valentim viria a ser decapitado a 14 de fevereiro de 270. (Fonte: wikipedia).

Não obstante a falta de comprovação histórica da existência de Valentim, motivo pelo qual a data deixou de ser celebrada pela Igreja Católica, que anteriormente o reconheceu como santo, o Dia dos Namorados tem-se mantido em nome do amor. Como muitas outras datas, este dia tornou-se escravo do capitalismo, em que a prenda ou o jantar forçados se tornaram no único sinal de que ainda há fé no amor, mais não seja para publicar uma foto pseudo-romântica nas redes sociais e/ou para responder ao socialmente esperado. Mas, efetivamente, ainda há fé no amor que existe e é celebrado todos os dias. Muitos casais procuram contrariar a tendência consumista ou simplesmente brincar com ela para neste dia assinalarem apenas a dança de encontros e desencontros, afinações e desafinações que fazem parte da construção de uma relação amorosa.

Talvez haja neste dia tantos jantares de namorados como de encalhados, parecendo estes últimos muitas vezes bem mais divertidos, enquanto se afirmam anti-cupidos, em jeito de “eu já não acredito no amor, mas ainda tenho esperança”, qual bruxedo ou feitiçaria.

“O amor não se diz, faz-se”, diz-nos o psicanalista Coimbra de Matos. Entendo esta frase no sentido de que o amor não se mostra nas palavras (ou só nas palavras), mas nos atos. E entendo que para fazer amor é preciso, em primeiro lugar, fazer-se amar. É preciso amor-próprio para se poder encontrar o amor verdadeiro, para se poder dar e receber. Sem amor próprio procurar-se-á o amor onde não existe, onde não pode ser construído. Sem amor-próprio procurar-se-á a valorização através do outro; sem amor próprio insistir-se-á na independência para fugir ao medo da dependência; sem amor-próprio o amor será dito e (des)feito em desequilíbrio constante; sem amor-próprio o amor será uma constante luta de poderes; sem amor-próprio o amor não será amor, será apenas mágoa, desilusão e desesperança.

O amor dá trabalho, se fosse fácil não seria tão ambicionado. As relações constroem-se, não nascem feitas nem são pré-fabricadas, não são pré-confecionadas nem prontas a levar, não são fast food ou take away como quase tudo na sociedade líquida dos tempos de hoje, em que tudo é efémero e volátil. Para um amor sólido é preciso passar pelas terras movediças da relação com o outro e connosco próprios.

Por isso, antes de mais, Feliz Dia de São Amor Próprio!

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Sobre a tirania do pensamento positivo

12/28/2018

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​Passado o natal, permitam-me este título pouco católico para introduzir um tema que talvez possa ser útil agora que se aproxima o balanço do final de ano e a habitual lista de resoluções de ano novo.

Sem dúvida que o otimismo faz falta e é uma ferramenta essencial ao nosso bem-estar e à nossa motivação. Mas nos últimos tempos assistimos ao que habitualmente apelido de tirania do pensamento positivo. Na era da imagem abunda o apelo ao corpo perfeito, à casa perfeita, às férias de sonho, ao carro xpto, ao telemóvel de última geração, ao outfit mais in, aos filhos com maior QI independentemente do seu estado emocional, à imaginação e à conta bancária dos pais a gritar pela festa de anos mais hiper mega fantástica… Nas livrarias multiplicam-se os títulos que vendem receitas para aumentar a autoestima, a felicidade, a produtividade, a inteligência, a gratidão, a aceitação… Nas redes sociais multiplica-se o espetáculo de vidas perfeitas e de sonho de celebridades que incentivam o “aceita-te como és” e o “sê grato pela vida que tens” através de uma selfie irrepreensível com uma paisagem paradisíaca por trás.

Parece que estamos numa época confusa em que o “médio/normal” passou a ser mau, sendo a excelência o objetivo a alcançar, sem nunca nos podermos queixar. Porque no meio de tudo isto abunda a tal avalanche da psicologia positiva, as afirmações e os mantras e até a tentativa de elevar a meditação e o mindfulness a uma espécie de remédio para todos os males (sobre este tema falarei noutra altura). Frases como “o medo não serve para nada”, “o sofrimento é uma opção”, “não vale a pena estar triste”, “sê grato pelo que a vida te dá”, “não penses nisso”, “tens de relaxar” ou “em vez de pensares nas coisas negativas, pensa nas coisas positivas” são alguns exemplos de como se parece tentar contrariar emoções que fazem parte do ser humano e, muitas vezes, são até um sinal de saúde mental. Digamos agora a uma pessoa profundamente deprimida que tenha força de vontade, que pense positivo e deixe de lado as tristezas; o mais provável é que fique ainda mais deprimida, com um forte sentimento de desadequação e incapacidade perante algo tão simples como pensar positivo.

Multiplicam-se também os treinadores de bem-estar que confundem objetivos de desenvolvimento pessoal com a necessidade de intervenção psicológica, e que se aventuram no aconselhamento de pessoas com quadros complexos, colocando-as em grave risco. Alguns até acusam os psicólogos (e outros profissionais) de terem falta de pacientes, razão pela qual se esforçam tanto em sensibilizar e alertar para fenómenos menos perfeitos da condição humana, nomeadamente o risco de saúde e os sintomas de doença que requerem a intervenção de pessoal habilitado. Porque na verdade bastará acreditar que temos uma vida melhor e repetirmos dez vezes o quanto gostamos de nós para que todo o mal desapareça, enquanto os malvados dos psicólogos têm a mania de mexer nas feridas.

Sem dúvida que é melhor ver o copo meio cheio em vez de meio vazio. É inquestionável o valordo pensamento positivo para podermos levar o nosso barco a bom porto.  Mas esta pressão para a felicidade permanente é algo que me tem vindo a incomodar seriamente. Caso para dizer “perdoem-me o incómodo”! É certo que vivemos tempos em que o aumento dos índices de depressão e ansiedade nos dá conta de um crescente mal-estar emocional, que se repercute tantas vezes a nível pessoal, familiar, social, profissional e académico.  Talvez por esta razão haja este foco na positividade, no sentido de trazer alguma esperança e motivação que nos ajudem a sair do fundo do poço e a contrariar a negatividade e a frustração que advém, em parte, desta época virada para o êxito e a perfeição. Irónico e perverso, não? Esforçamo-nos ao máximo para alcançar o máximo, o que nos desgasta, entristece e frustra, retirando-nos toda a energia e confrontando-nos com a imperfeição, e depois voltamos à busca pela perfeição e pelo êxito porque é proibido ficar a lamber as feridas do insucesso.

Uma coisa é aceitar os nossos defeitos, as nossas fragilidades e as adversidades com que nos deparamos e, se possível, tentar transformá-los em oportunidades (de aprendizagem, pelo menos), outra coisa é vivermos em negação, alienados da realidade, sem respeito pelas reações emocionais normais e expectáveis. Em doses normais, tristeza, ansiedade, medo e zanga protegem-nos. Doses excessivas com impacto significativo e limitador requerem ajuda profissional. Doses nulas só existem se estivermos mortos…

Assim, nesta altura em que habitualmente fazemos um balanço do ano e traçamos as metas para o seguinte, convido-vos a colocar na vossa lista de resoluções a leitura deste livro “A arte subtil de dizer que se f#da”, que aborda de forma mais animada e descontraída este meu incómodo. Congratulemo-nos pelas nossas conquistas, sejamos gratos pelo que a vida nos dá (com ou sem o nosso esforço), reconheçamos as derrotas e as perdas (com ou sem a nossa responsabilidade), sejamos brandos e gentis connosco próprios, com as nossas emoções e com o tempo que necessitamos para lidar com as situações, para que possamos fazer uma avaliação realista do nosso ano e traçar objetivos realistas para o próximo.
​
Nada muda se fizermos tudo da mesma forma. É certo e sabido que mais de metade das resoluções de ano novo falham e que em fevereiro, no máximo, já pouco nos lembramos delas. Não quer isto dizer que devemos deixar as passas de lado! Aliás, tenho até o hábito de convidar os meus pacientes a pensarem em doze desejos para o ano novo. Porque o sonho comanda a vida, porque mal ou bem as resoluções e/ou os desejos nos ajudam a relembrar aquilo que nos fará felizes e a traçar um plano para os alcançar. Mas é importante que estes desejos sejam realistas e alcançáveis, caso contrário a frustração e a falta de esperança rapidamente se voltarão a instalar e pouco restará além do pensamento positivo para que, em jeito de pensamento mágico típico dos três anos, voltemos a achar que temos pouca ou nenhuma intervenção na nossa vida e que basta repetir em frente ao espelho “eu sou feliz” para realmente o sermos.
 
Terminando de forma positiva: Votos de um excelente ano!
 
 
 
 
 

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Açúcar, Ansiedade e Agitação

7/13/2018

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Parece óbvia a necessidade de atentar à alimentação quando estamos perante um problema de saúde (física). Por exemplo, são relativamente bem conhecidas as recomendações alimentares na prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares, hepáticas, na diabetes, etc. Mas quando se fala em saúde mental e alimentação parece surgir um grande ceticismo, provavelmente por ser ainda uma área de estudo em expansão, que não se resume à recomendação de comer chocolate para melhorar o humor (recomendação esta que, na verdade, deve ser encarada com óbvia moderação). Talvez também porque a saúde mental tem sido sempre um parente pobre da saúde. Na verdade, não há saúde (física) sem saúde mental, nem saúde mental sem saúde. Há cada vez mais investigação nesta área, sobretudo no que respeita ao impacto do microbioma intestinal no eixo cérebro-intestino e às doenças inflamatórias, com descobertas promissoras, como podem ver no artigo que partilhei ontem.


Corpo e mente são indissociáveis, pelo que um corpo malnutrido trará a reboque um cérebro desnutrido, com o consequente impacto no pensamento, nas emoções e no comportamento.
O nosso cérebro é uma máquina que está sempre ligada, o que significa que precisa de atestar constantemente o combustível. Quanto melhor for a qualidade deste combustível, melhor irá funcionar. Logo uma alimentação de qualidade vai nutrir o cérebro e protegê-lo do desgaste. Assim como o motor de um carro deixará de funcionar bem se utilizarmos continuamente um combustível de baixa qualidade, uma alimentação pouco saudável poderá causar danos no nosso cérebro. E o combustível em forma de alimentos inclui proteína, hidratos de carbono e gordura. A mistura correta irá contribuir para maior eficiência.


Nos tempos acelerados que correm (literalmente) temos vindo a descurar a alimentação, recorrendo a alimentos refinados, produtos altamente processados, refeições pré-preparadas, com particular relevo para o excesso de gorduras e de açúcar. O cérebro precisa de açúcar (hidratos de carbono) para funcionar, não sendo por acaso que nas dietas com grande restrição de hidratos de carbono se verifica frequentemente um aumento da agressividade, da irritabilidade e de problemas de concentração, por exemplo. Mas o cérebro precisa do açúcar certo (hidratos de carbono complexos) e aquilo a que assistimos atualmente é a um consumo excessivo de açúcares simples, muitas vezes até mascarados de snacks saudáveis. Frequentemente o recurso ao açúcar tenta cumprir a expetativa de recuperar energia e de combater a ansiedade, tendo na realidade o efeito inverso.

A emoção segue a alimentação (“mood follows food”, já não me recordo onde li esta expressão) e as oscilações do humor seguem as oscilações de açúcar. Um primeiro passo, ao nível da nutrição, para o bom funcionamento do cérebro e para a estabilidade emocional é reduzir o consumo de hidratos de carbono simples e refinados. Açúcar, farinhas brancas e derivados provocam um aumento brusco do açúcar no sangue e depois a queda. Daí aquele pico de energia logo depois de comermos um doce ou uma refeição rica em hidratos simples, seguido de uma quebra uma hora ou duas depois, quando os níveis de glucose descem e a fadiga e a irritabilidade regressam. A tendência é voltar a ingerir produtos açucarados para recuperar, provocando uma montanha russa de açúcar e, consequentemente, de fadiga, agitação e ansiedade. Aliás, são cada vez mais os estudos que sugerem a relação entre o excesso de açúcar, a ansiedade e a perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Teremos crianças hiperativas ou malnutridas? Este tema será aprofundado numa publicação futura.

Os altos e baixos de açúcar afetam o funcionamento mental. A descida de glucose no sangue provoca a quebra do humor, irritabilidade, ansiedade, nervosismo, ânsia por doces, insónias, problemas de concentração, agitação, desmaios, fraqueza motora, dores de cabeça, alterações visuais, confusão, tremores… Estes são muitas vezes sinais de “ressaca” que podem levar a um ciclo vicioso, com nova ingestão de açúcar para compensar este mal-estar. Uma forma de a evitar é aumentando o consumo de hidratos complexos, proteína e comer várias vezes ao dia, evitando sentir fome. Aconselha-se que procure um nutricionista que o ajude a planear melhor as suas refeições. Muitas pessoas comem mal ingenuamente, sendo necessária uma reeducação alimentar. Acresce ainda a necessidade de averiguar a existência de um problema de compulsão alimentar, com recurso à comida para encher o vazio emocional, tema também a desenvolver em breve.


Sem reduzir o consumo de hidratos de carbono simples, será difícil equilibrar o humor, permanecendo este alterado, às vezes sem se perceber porquê.
 
 

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