
Um longo, mas muito interessante artigo sobre este assunto que podem consultar AQUI
![]() A exposição materna a excessivos fatores de stress psicossocial durante a gravidez pode ter efeitos negativos no neurodesenvolvimento do feto e da criança, incluindo atraso no desenvolvimento mental e motor, dificuldades no temperamento, e limitações no rendimento intelectual. Os motivos subjacentes prendem-se com alterações na estrutura do cérebro e suas conexões. Foi descoberta recentemente uma ligação direta entre o estado emocional da mãe durante a gravidez e alterações na formação da estrutura cerebral. Filhos de mães que vivenciaram elevados níveis de ansiedade no segundo trimestre de gravidez demonstravam uma diminuição do volume da substância cinzenta em regiões específicas e limitações ao nível das funções executivas. Um longo, mas muito interessante artigo sobre este assunto que podem consultar AQUI
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![]() A parentalidade “tardia” mobiliza essencialmente informação pouco otimista, apesar das estatísticas serem cada vez mais animadoras. À parte dos fatores associados à saúde, vários estudos referem vantagens no casal que concebe tardiamente: maior maturidade e capacidade de decisão, maior segurança sócio-económica, menor receio e maior controlo no momento do parto, maior confiança nas equipas de saúde, experiência de vida e identidade melhor consolidada, que poderá ajudar a uma melhor adaptação. No entanto, este último aspeto tende a ser mais controverso uma vez que com a idade pode haver uma tendência a uma maior resistência à mudança de rotinas e à alteração de uma vida à partida mais estruturada. Filhos de pais mais velhos referem frequentemente que os pais são mais rígidos, mas mais justos, que têm mais sabedoria e maior consciência dos valores. De uma forma geral, o casal mais jovem parece manifestar uma maior fragilidade e vulnerabilidade, com maior enfoque nas suas próprias angústias e nos seus conflitos, podendo ter menor disponibilidade emocional para o bebé do que o casal mais maduro. Em qualquer dos casos, o mais importante será a personalidade e a saúde mental prévias, bem como a rede de suporte do casal, e estes são fatores a que os profissionais de saúde devem estar atentos, para que possam despistar sinais de alerta que requeiram intervenção psicoterapêutica: depressão materna (ou paterna), comportamentos obsessivo-compulsivos, medos exacerbados relativamente à saúde, divisão de papéis entre o casal, conflitos do casal. Alguns estudos referem que os filhos de pais mais velhos serão menos inteligentes, embora não existam dados que confirmem ou justifiquem esta hipótese. A ser verdade, podemos colocar a hipótese de problemas no neurodesenvolvimento, associados ou não à idade dos pais, mas podemos também avançar com o impacto do estilo parental; a tendência à sobreproteção (no contexto das angústias referidas no post Gravidez Tardia II) pode dificultar experiências mais estimulantes e confinar a criança a um ambiente mais fechado e com menos contacto com experiências novas. A condição física dos pais também poderá ser um fator de influência, observando-se uma menor resistência física ou predisposição para se sentarem no chão para brincar. Se, do ponto de vista psicomotor e do imaginário, esta possa ser uma desvantagem, poderá ser benéfica a outros níveis, com uma maior aposta em atividades culturais e intelectuais. Mas também é verdade, que existe uma maior tendência a manter a atividade física, que poderá contrariar este aspeto. A tolerância é também um fator que suscita alguma ambivalência no que respeita às vantagens e desvantagens da idade. Se por um lado são pais eventualmente mais maduros e, por isso, mais tolerantes, por outro, a maior resistência à mudança pode levar a uma maior irritabilidade e tendência à punição. Estas características irão desempenhar um papel fundamental nas práticas mais permissivas ou mais autoritárias que se adotam e que terão grande influência no desenvolvimento sócio-emocional da criança. Em qualquer idade, o principal é o equilíbrio, a coerência e a consistência, questões que estão muito dependentes das próprias relações familiares vivenciadas pelo pai e pela mãe, e pelas suas histórias individuais. Publicado originalmente no Psisalpicos ![]() Pelo menos até há bem pouco tempo (na verdade, penso que ainda é assim), uma gravidez depois dos 35 anos era automaticamente considerada de risco. Não descurando a maior incidência de alterações e complicações a partir desta idade, esta classificação sem a verificação de fatores pré-existentes pode trazer um risco acrescido: o da ansiedade. A gravidez requer adaptação a vários níveis e traz consigo ansiedade e angústias normais. À partida, mesmo nos casais que optaram (em contraposição à decisão forçada) por adiar a parentalidade, existe uma ansiedade face à possibilidade ou não de conceberem e face aos receios inerentes ao decorrer da gravidez e do desenvolvimento do bebé. Ao verem a sua gravidez conotada como “de risco”, a ansiedade e os receios podem aumentar exponencialmente e influenciar de forma negativa o processo. Por um lado, passa a haver uma perceção e uma crença de que o bebé será mais vulnerável e correrá mais riscos, mesmo não tendo havido qualquer problema ou complicação. Por outro lado, esta crença pode levar a uma culpabilidade e a um sentimento de responsabilidade direta sobre a saúde do filho. Este aspeto pode não só afetar a gravidez, como o estilo parental após o nascimento, que poderá ser excessivamente protetor devido a angústias de doença ou mesmo de morte. No extremo, a mãe (e obviamente o pai) pode mobilizar mecanismos de defesa que a impedem de se ligar ao bebé durante a gravidez, e depois, devido ao receio de que não sobreviva. Estes movimentos podem ter consequências devastadoras na saúde mental dos pais e da criança. Este aspeto implica, portanto, a necessidade dos profissionais de saúde serem sensíveis aos fatores psicológicos e acompanharem o casal não só do ponto de vista médico, mas também no que toca às expetativas e aos receios. A gravidez tardia (talvez também esta expressão deva ser repensada) é o resultado de mudanças sociais e dos progressos médicos, obrigando por isso a uma mudança nos paradigmas de intervenção. Publicado originalmente no Psisalpicos ![]() Uma em cada cinco mulheres adia a gravidez para depois dos 35 anos. Vários fatores contribuem para este aspeto: dificuldades financeiras, aposta na consolidação da carreira, estatística mais animadora no que respeita aos cuidados médicos e a complicações nesta faixa etária, maior índice de divórcios e de instabilidade nos relacionamentos afetivos. A maior parte das gravidezes tardias são em mulheres com estudos superiores ou, pelo contrário, em níveis sociais mais desfavorecidos, neste caso devido à falta de planeamento familiar. Há que distinguir a mulher que adia voluntariamente a gravidez, da que “decide” engravidar tardiamente por fatores alheios à sua vontade. Mesmo quando a mulher decide engravidar mais tarde, por exemplo por motivos profissionais, não significa que não tenha esse desejo mais cedo e que não vivencie a pressão social, biológica e intrapsíquica, com ansiedades e angústias relacionadas com a possibilidade de conceber. Também se assiste a um aumento do número de casais que não consegue conceber, sem que haja condições médicas associados. As mulheres ouvem cada vez mais que irão engravidar quanto abrandarem o ritmo de trabalho, havendo portanto fatores de stress associados. Mas quem se pode dar ao luxo de trabalhar menos nos dias de hoje? É sabido que a partir dos 35 anos há uma diminuição da fertilidade e que acrescem os riscos para a saúde da mãe e do bebé: maior incidência de abortos, maior risco de diabetes e hipertensão maternas, maior índice de baixo peso à nascença e de sofrimento fetal, maior incidência de anomalias fetais e maior taxa de complicações obstétricas. Há também dados que referem riscos relacionados com a idade do pai, embora a este nível existam menos informações. Contudo, e apesar de a partir dos 35 anos a gravidez continuar a ser conotada como sendo de risco, existem também cada vez mais dados que indicam que se a mulher for saudável e assegurar os cuidados pré-natais, os riscos são semelhantes aos de uma mulher mais jovem. Assim, os riscos estarão mais associados a fatores pré-existentes, que parecem ser mais frequentes em mulheres mais velhas. Este é o primeiro post de uma série de reflexões que pretendemos desenvolver. Nos próximos, iremos abordar as vivências e expetativas associadas ao rótulo “de risco”, bem como as particularidades que são descritas no estilo parental dos casais que têm filhos mais tarde. Publicado originalmente no Psisalpicos ![]() Ao nascer, o bebé está muito centrado no próprio corpo, nas informações que os sentidos lhe dão, sobretudo a partir do toque e da voz da mãe. Há nesta altura uma espécie de indissociação, em que mãe e bebé funcionam quase como um só. Numa relação precoce saudável, a mãe responderá de forma ajustada às necessidades do bebé, alimentando, acalmando, estimulando suavemente e dando segurança para que o bebé se torne num ser individualizado, apesar das necessidades parentais de que necessitará ainda durante muito tempo. Em alguns casos, esta relação não decorre exatamente assim. Mães com fragilidades emocionais graves, poderão não ter disponibilidade afetiva suficiente para serem sensíveis às necessidades e aos ritmos do bebé. Podem falhar na supressão das necessidades mais básicas e também no grau de estimulação. Por vezes podem ter um registo que oscila entre o afastamento e a relação sufocante. Se o bebé é sobre-estimulado numa altura em que precisa de ser acalmado, acaba por mobilizar mecanismos que o ajudam a defender-se da sobrecarga, nomeadamente “desligando”. Se quando necessita de resposta (emocional, fisiológica), esta não surge, a ausência e a sensação de desamparo desencadeiam igualmente mecanismos de defesa. Quando a mãe se afasta, o sentimento de abandono é grande e ânsia de conforto, maior ainda. Quando a mãe sufoca, não só é demasiado suportar a proximidade excessiva, como o sentimento de que a qualquer momento a mãe se vai voltar a afastar obriga a um novo (des)ajustamento por parte da criança. E assim esta criança, que mais tarde será adulta, poderá aprender que as relações não são seguras nem previsíveis. Se por um lado a relação nunca preenche suficientemente o vazio, por outro lado a proximidade e o afeto podem tornar-se demasiado assustadores, pelo medo da dependência e da perda, aspetos que poderão instalar-se de tal forma que condicionarão os vários tipos de relacionamento. Daí que o papel do pai seja extremamente importante para o equilíbrio e para a possibilidade de estabelecer uma relação mais segura e previsível. Por outro lado, do mesmo modo que os pais consultam o pediatra em etapas fundamentais do desenvolvimento, defendo a importância da observação psicológica nos mesmos moldes. A avaliação da relação pais-bebé nas etapas mais precoces do desenvolvimento emocional é essencial para a prevenção e/ou o despiste de situações potencialmente comprometedoras da construção de bases sólidas da personalidade e da saúde mental. Ao mesmo tempo, será um espaço onde os pais podem partilhar as suas angústias, os seus receios, as suas alegrias e as suas expetativas em relação ao bebé, mas também no que respeita às alterações na dinâmica do casal e nos papéis de cada um. Publicado originalmente no Psisalpicos |
Alexandra Barros BlogNeste espaço pode consultar e comentar artigos sobre uma diversidade de temas. Categories
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