Ao nascer, o bebé está muito centrado no próprio corpo, nas informações que os sentidos lhe dão, sobretudo a partir do toque e da voz da mãe. Há nesta altura uma espécie de indissociação, em que mãe e bebé funcionam quase como um só. Numa relação precoce saudável, a mãe responderá de forma ajustada às necessidades do bebé, alimentando, acalmando, estimulando suavemente e dando segurança para que o bebé se torne num ser individualizado, apesar das necessidades parentais de que necessitará ainda durante muito tempo.
Em alguns casos, esta relação não decorre exatamente assim. Mães com fragilidades emocionais graves, poderão não ter disponibilidade afetiva suficiente para serem sensíveis às necessidades e aos ritmos do bebé. Podem falhar na supressão das necessidades mais básicas e também no grau de estimulação. Por vezes podem ter um registo que oscila entre o afastamento e a relação sufocante. Se o bebé é sobre-estimulado numa altura em que precisa de ser acalmado, acaba por mobilizar mecanismos que o ajudam a defender-se da sobrecarga, nomeadamente “desligando”. Se quando necessita de resposta (emocional, fisiológica), esta não surge, a ausência e a sensação de desamparo desencadeiam igualmente mecanismos de defesa. Quando a mãe se afasta, o sentimento de abandono é grande e ânsia de conforto, maior ainda. Quando a mãe sufoca, não só é demasiado suportar a proximidade excessiva, como o sentimento de que a qualquer momento a mãe se vai voltar a afastar obriga a um novo (des)ajustamento por parte da criança.
E assim esta criança, que mais tarde será adulta, poderá aprender que as relações não são seguras nem previsíveis. Se por um lado a relação nunca preenche suficientemente o vazio, por outro lado a proximidade e o afeto podem tornar-se demasiado assustadores, pelo medo da dependência e da perda, aspetos que poderão instalar-se de tal forma que condicionarão os vários tipos de relacionamento.
Daí que o papel do pai seja extremamente importante para o equilíbrio e para a possibilidade de estabelecer uma relação mais segura e previsível. Por outro lado, do mesmo modo que os pais consultam o pediatra em etapas fundamentais do desenvolvimento, defendo a importância da observação psicológica nos mesmos moldes. A avaliação da relação pais-bebé nas etapas mais precoces do desenvolvimento emocional é essencial para a prevenção e/ou o despiste de situações potencialmente comprometedoras da construção de bases sólidas da personalidade e da saúde mental. Ao mesmo tempo, será um espaço onde os pais podem partilhar as suas angústias, os seus receios, as suas alegrias e as suas expetativas em relação ao bebé, mas também no que respeita às alterações na dinâmica do casal e nos papéis de cada um.
Publicado originalmente no Psisalpicos
Em alguns casos, esta relação não decorre exatamente assim. Mães com fragilidades emocionais graves, poderão não ter disponibilidade afetiva suficiente para serem sensíveis às necessidades e aos ritmos do bebé. Podem falhar na supressão das necessidades mais básicas e também no grau de estimulação. Por vezes podem ter um registo que oscila entre o afastamento e a relação sufocante. Se o bebé é sobre-estimulado numa altura em que precisa de ser acalmado, acaba por mobilizar mecanismos que o ajudam a defender-se da sobrecarga, nomeadamente “desligando”. Se quando necessita de resposta (emocional, fisiológica), esta não surge, a ausência e a sensação de desamparo desencadeiam igualmente mecanismos de defesa. Quando a mãe se afasta, o sentimento de abandono é grande e ânsia de conforto, maior ainda. Quando a mãe sufoca, não só é demasiado suportar a proximidade excessiva, como o sentimento de que a qualquer momento a mãe se vai voltar a afastar obriga a um novo (des)ajustamento por parte da criança.
E assim esta criança, que mais tarde será adulta, poderá aprender que as relações não são seguras nem previsíveis. Se por um lado a relação nunca preenche suficientemente o vazio, por outro lado a proximidade e o afeto podem tornar-se demasiado assustadores, pelo medo da dependência e da perda, aspetos que poderão instalar-se de tal forma que condicionarão os vários tipos de relacionamento.
Daí que o papel do pai seja extremamente importante para o equilíbrio e para a possibilidade de estabelecer uma relação mais segura e previsível. Por outro lado, do mesmo modo que os pais consultam o pediatra em etapas fundamentais do desenvolvimento, defendo a importância da observação psicológica nos mesmos moldes. A avaliação da relação pais-bebé nas etapas mais precoces do desenvolvimento emocional é essencial para a prevenção e/ou o despiste de situações potencialmente comprometedoras da construção de bases sólidas da personalidade e da saúde mental. Ao mesmo tempo, será um espaço onde os pais podem partilhar as suas angústias, os seus receios, as suas alegrias e as suas expetativas em relação ao bebé, mas também no que respeita às alterações na dinâmica do casal e nos papéis de cada um.
Publicado originalmente no Psisalpicos